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Para o bem do clima, ouça as populações urbanas da Amazônia

Uma mulher usando uma máscara de proteção facial fala em uma manifestação internacional pelo clima
Ativistas pelo clima participam de uma manifestação internacional pelo clima em frente ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em São Paulo em 25 de setembro de 2020. © Andre Lucas/dpa/Getty

A região amazônica é conhecida internacionalmente por sua floresta tropical, uma das áreas de maior biodiversidade do planeta. A Floresta Amazônica absorve mais carbono do que qualquer outra região de ecossistema terrestre e, há muito, vem sendo foco central de esforços internacionais para contornar os piores efeitos da crise climática provocada pelo ser humano. 

No entanto, governos locais a exemplo do Brasil ou Colômbia, e líderes internacionais, como os da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos, muitas vezes se esquecem das diversas comunidades urbanas que também existem na Amazônia. De Manaus e Belém, no Brasil, à Letícia, na Colômbia, e Iquitos, no Peru, milhões de habitantes urbanos têm a Amazônia como lar. 

No Programa para a América Latina da Open Society Foundations, apoiamos soluções centralizadas nas populações urbanas da Amazônia e sua importância para a proteção da região. Acreditamos que movimentos e organizações locais podem impulsionar a preservação e a restauração da Amazônia por ações em nível local, estadual e federal direcionadas a atores do governo, do agronegócio e da população em geral, com o objetivo de impedir que a situação da floresta chegue a um “ponto de não retorno”.

Nas últimas décadas, os esforços de proteção da Amazônia por organizações filantrópicas e não governamentais e organismos multilaterais estiveram concentrados em esforços de conservação na floresta e em políticas no âmbito nacional. Poucos esforços foram despendidos no engajamento das áreas urbanas amazônicas e de suas populações, constituídas principalmente por populações indígenas e afrodescendentes.

No Brasil, por exemplo, que engloba mais de 60 por cento da Amazônia, apenas a cidade de Belém conta com mais de 2 milhões de habitantes. A totalidade região conta com 29 milhões de habitantes e 70 por cento dessa população vive em áreas urbanas. Os habitantes da Amazônia, principalmente as crianças, enfrentam altas taxas de doenças respiratórias devido às partículas suspensas na fumaça produzida pelos incêndios na floresta, o que também tornou muitas pessoas vulneráveis durante as infecções por COVID-19. Dessa forma, os moradores urbanos da Amazônia têm muitas razões para demandar reformas que incluam políticas públicas adequadas para garantir a prevenção do desmatamento, a melhoria do saneamento, o aumento da infraestrutura urbana visando prevenir os prejuízos relacionados a enchentes e uma maior prevenção contra incêndios florestais. 

Para compreender a situação do Brasil na atualidade, é relevante entender a história do país no que diz respeito a políticas climáticas e gestão florestal. No início da década de 2000, o país teve grandes avanços na proteção da Floresta Amazônica, reduzindo o desmatamento em 82 por cento de 2003 a 2012. No entanto, o desmatamento voltou a aumentar em 2013; e em 2020, chegou chegou ao maior patamar dos últimos 12 anos. A derrocada ocorreu após o governo do presidente Jair Bolsonaro colocar em vigor uma série de políticas antiambientais, que minaram as políticas existentes de conservação e o direito de participação da sociedade civil nas tomadas de decisão. 

No momento, o governo federal brasileiro não é um parceiro colaborativo no que diz respeito à proteção florestal. Deste modo, a estratégia mais eficaz é envolver os estados e cidades da Amazônia, onde vive a maior parte da população. Nos centros urbanos Amazônicos, há movimentos diversos e dinâmicos da sociedade civil, tais como a Associação Kanindé, a NOSSAS, o IMAZON e o Comitê Chico Mendes, que se mobilizam para impedir o desmatamento e para assegurar políticas econômicas e sociais e raciais inclusivas. De fato, como me contou Alana Manchineri, jovem indígena de Rio Branco - Acre, “a juventude indígena e negra tem um imenso poder de influenciar tomadores de decisões e de mobilizar escolas e universidades na proteção da Floresta Amazônica.”

Fundadores e apoiadores de Ame o Tucunduba posam para uma foto em Belém, Brasil, dia 21 de Setembro, 2019.
Fundadores e apoiadores de Ame o Tucunduba posam para uma foto em Belém, Brasil, dia 21 de Setembro, 2019. © Elias Costa

Movimentos importantes liderados por jovens, feministas, indígenas e negros, como o Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, o Fundo DEMA e a Juventude Indígena de Rondônia, estão desenvolvendo trabalhos notáveis traduzindo para diferentes audiências a conexão entre o clima e a justiça racial na proteção da Floresta Amazônica. Esses grupos tornam claro que a conservação climática e ambiental não deve ser separada da dimensão social da região. No Brasil, os piores indicadores socioeconômicos e os piores sistemas de saúde e saneamento estão na região amazônica que também está sendo fortemente afetada pela pandemia de COVID-19 e assim como o resto do Brasil, ainda vê os esforços para a vacinação caminhando lentamente. 

Na cidade de Belém, no Pará, a Ame o Tucunduba, uma organização liderada por mulheres, está promovendo a capacitação de uma liderança feminina em pautas ambientais e de ativismo para ampliar e apoiar uma cultura democrática nas discussões políticas por justiça climática junto ao poder municipal.

Progressivamente, os moradores das áreas urbanas amazônicas estão pautando três mensagens claras ao governo federal e a atores internacionais que apoiam a preservação da floresta tropical. Primeiro, a ideia de que o Brasil deve destruir parte de suas florestas para conseguir promover crescimento econômico é inaceitável, ultrapassada e perigosa. A segunda mensagem é que está na hora de abandonar a imagem da floresta como um ambiente intocado e predominantemente inabitado. E a terceira, é necessário implementar novas formas de desenvolvimento para a região, promovendo justiça climática, social e racial, aumentando os empregos verdes e a “bioeconomia”.

Até que os líderes brasileiros e internacionais comecem a levar essas verdades a sério, a estabilidade econômica e a justiça climática continuarão fora de alcance para a população da Amazônia.

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