Perguntas & Respostas: Impulsionando um Diálogo Global e Ético sobre Política Climática
A Sitawi é uma organização sediada no Brasil com a missão de mobilizar investimentos para impacto social e ambiental positivo. Conversamos com a head de gestão de filantropia da Sitawi, Fernanda Pessoa, na COP30 sobre como a organização se envolveu com o Balanço Ético Global (Global Ethical Stocktake).
Qual é o seu nome e o que você faz?
Meu nome é Fernanda Pessoa e sou diretora de gestão filantrópica na Sitawi. Lidero um portfólio de fundos filantrópicos e nossas parcerias estratégicas com foco em mobilizar e gerir capital para iniciativas socioambientais de alto impacto em todo o Brasil.
Conte um pouco sobre o que é a Sitawi e o que a organização faz.
A Sitawi é uma organização sem fins lucrativos pioneira no Brasil, dedicada a ampliar o volume de capital disponível para impacto social e ambiental. Há quase 18 anos desenvolvemos mecanismos financeiros que ajudam a trazer mais recursos, mais flexibilidade e mais eficiência para o campo do impacto social.
Quais são algumas das soluções financeiras inovadoras que a Sitawi apoia para gerar impacto socioeconômico?
Trabalhamos com uma série de mecanismos de blended finance e financiamento catalítico que ainda são relativamente novos no Sul Global. Alguns exemplos incluem fundos filantrópicos customizados para doadores e times de impacto; recoverable grants e empréstimos de impacto; e financiamentos baseados em resultados e fundos colaborativos que reúnem recursos de múltiplos doadores para enfrentar desafios sistêmicos complexos, como justiça climática, equidade racial e bioeconomia. Todas essas soluções são pensadas para permitir que capital — que talvez não chegasse a organizações locais de alto impacto — finalmente alcance quem mais precisa.
O que é o Global Ethical Stocktake (Balanço Global Ético)?
O Balanço Global Ético (BEG) é um processo liderado pela sociedade civil criado para complementar o Balanço Global do Acordo de Paris, avaliando não apenas o progresso técnico, mas também as dimensões éticas da ação climática — como responsabilidade, equidade, cuidado com o planeta e proteção de comunidades vulneráveis. A iniciativa busca trazer clareza moral à crise climática, integrando vozes de diferentes regiões, culturas e setores que costumam ser sub-representadas nas negociações formais.
A iniciativa ganhou projeção global como parte do Círculo da COP, lançado pelo presidente Lula e pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e conduzido no Brasil pela ministra Marina Silva. O objetivo do Balanço Global Ético é ampliar o diálogo climático global e mobilizar a sociedade em torno da justiça climática rumo à COP 30 na Amazônia.
Como a Sitawi passou a fazer parte do Balanço Global Ético?
A Sitawi se envolveu no Balanço Global Ético por meio de uma parceria com o Ministério do Meio Ambiente, que buscava uma organização confiável para apoiar a gestão financeira da iniciativa. Por meio dessa parceria, a Sitawi tem ajudado a operacionalizar o processo, garantindo sua execução e viabilidade financeira e fortalecendo a infraestrutura necessária para um diálogo climático verdadeiramente global e centrado na justiça.
Nosso papel garante que a iniciativa funcione com boa governança e que os recursos sejam utilizados de forma eficiente, transparente e alinhada à sua missão ética.
Globalmente, o processo vem promovendo diálogos e consultas em vários continentes, África, América Latina, América do Norte, Ásia e Europa, reunindo lideranças indígenas, juventudes, acadêmicos, formuladores de políticas e organizações da sociedade civil para definir, na prática, o que significa uma ação climática ética. Essas contribuições alimentam um relatório consolidado apresentado no caminho para a COP 30, reforçando o imperativo moral de acelerar a ambição climática.
Por que o Balanço Global Ético foi importante antes da COP 30?
A COP30 é um marco histórico. É a primeira COP sediada na Amazônia e é um momento crucial para avançar numa transição justa. O Balanço Global Ético foi essencial porque traz coragem moral para a ação climática, que muitas vezes é dominada por narrativas técnicas ou geopolíticas. A iniciativa destaca responsabilidades, especialmente de quem mais contribuiu para a crise climática, e coloca no centro as comunidades vulneráveis e seu direito à adaptação, à resiliência e ao desenvolvimento.
Realizar esse processo antes da COP 30, e apresentá-lo agora durante a conferência, garante que as considerações éticas influenciem as negociações, os compromissos e os caminhos de financiamento.
Como os resultados do Balanço Global Ético estão sendo compartilhados na COP30?
Os resultados estão sendo apresentados em um espaço próprio na COP 30, com intervenções artísticas e elementos ecoambientais representando as conclusões globais, além de painéis, coletivas de imprensa e eventos paralelos pela blue zone.
Relatórios regionais e depoimentos também estão sendo levados diretamente às mesas de negociação em colaboração com coalizões da sociedade civil, para que possam ser integrados às discussões e orientar o financiamento para adaptação e transição justa.
Quais resultados você espera ver após a COP30?
Pessoalmente, espero ver compromissos financeiros mais robustos, especialmente para adaptação e perdas e danos, acesso simplificado ao financiamento climático, caminhos claros para uma transição justa e mais colaboração entre filantropia, governo e setor privado para escalar soluções locais.
Em essência, espero que a COP 30 avance um modelo de governança climática baseado em ética, inclusão e responsabilidade compartilhada: um modelo que considere as dimensões morais e sociais, e não apenas as técnicas.
Sitawi é beneficiária da Open Society Foundations.