Financiar novos caminhos em direção a uma sociedade aberta — atualização
By Pedro Abramovay

Promover sociedades abertas é uma iniciativa inerentemente política. A Open Society Foundations nunca hesitou em trabalhar em contextos repressivos e apoia causas de direitos humanos que ninguém mais apoiaria.
Somos uma entidade filantrópica cujas origens remontam a grandes lutas políticas que antes pareciam intransponíveis, seja a luta contra o apartheid na África do Sul ou a consolidação da transição para a democracia na Europa Central e Oriental. Em mais de quatro décadas promovendo direitos, igualdade e justiça, apoiamos consistentemente mudanças sistêmicas para construir sociedades mais inclusivas no mundo todo.
Sociedades abertas continuam a ser moldadas pela primazia da política, mas o mundo em si está mudando rapidamente. À medida que o cenário global muda, nosso futuro compartilhado fica em jogo.
As mudanças climáticas e as concentrações extremas de riqueza estão produzindo novas ameaças; democracias inclusivas estão sendo corroídas internamente por autocratas eleitos e pelas forças do majoritarismo; padrões duplos minam as normas internacionais.
Mas também há possibilidades promissoras, incluindo o surgimento de novos poderes e novas manifestações de cidadãos que estão se organizando contra essas tendências. Há apelos crescentes para refazer instituições internacionais que não são mais adequadas ao propósito do mundo de hoje.
Podemos aproveitar essa energia emergente para criar um mundo mais justo e igualitário?
Muitos autoritários no mundo todo sabem exatamente o que querem alcançar. Nosso papel, junto com nossos parceiros, é promover melhores alternativas nos âmbitos nacional, regional e mundial. Disputas políticas em nível nacional, embasadas por percepções locais, podem alimentar conversas em arenas internacionais.
Vimos exemplos disso mais recentemente no Rio de Janeiro, na cúpula do G-20, que abriu novos caminhos no enfrentamento da desigualdade econômica com uma proposta do Brasil, referente a um imposto global sobre bilionários, refletindo como um país do hemisfério sul pode usar esses espaços multilaterais para introduzir agendas que atendam à maioria mundial. No início deste ano, nas Nações Unidas, o Grupo da África liderou a Assembleia Geral na aprovação de uma convenção tributária histórica que reprime a evasão fiscal e visa garantir que o dinheiro dos impostos seja usado para o bem público. Esses esforços começaram como iniciativas da sociedade civil localmente.
Outro exemplo é o acordo de Escazú, um plano de ação liderado regionalmente, no qual países da América Latina e do Caribe se uniram para fortalecer a proteção dos defensores dos direitos humanos e ambientais. Estamos apoiando uma iniciativa da sociedade civil para desenvolver um acordo intergovernamental semelhante na África a fim de garantir que o debate global sobre a proteção dos defensores ambientais seja moldado por países do hemisfério sul.
Para enfrentar esse momento, a Open Society também está repensando em como fazer seu trabalho e onde colocar sua atenção. No futuro, seremos uma organização menor, mas ainda potente, mais focada e integrada em suas iniciativas.
Nossas raízes continuam as mesmas, mas estamos adaptando nossa forma de trabalhar. Seguiremos assumindo riscos e permaneceremos atentos aos desafios locais com uma equipe distribuída globalmente, formada e estabelecida nas regiões onde trabalham. Continuaremos a lidar com o pensamento heterodoxo e as perspectivas críticas como uma característica saudável das sociedades abertas por meio do nosso Workshop de Ideias, para desafiar as maneiras de ver o mundo. Continuaremos a reagir a crises e outras situações imprevistas por meio do nosso fundo de reserva rápida.
Em vez de manter programas permanentes, estamos construindo grande parte do nosso trabalho em torno de novas metas com prazo determinado, que abordarão uma variedade de questões e focos geográficos, como a promoção de novos modelos econômicos de transformação verde liderados pelo Estado e a promoção da participação política inclusiva. Isso nos permitirá encerrar iniciativas com responsabilidade e abrir novas áreas ao longo do tempo. Continuaremos a apoiar atividades estratégicas de litígio, tanto diretamente quanto por meio de suporte financeiro, e a empregar investimentos de impacto como uma ferramenta de mudança.
Para garantir que o trabalho em cada região seja coordenado e inteirado dos diferentes contextos e espaços políticos nos quais atuamos, nomeamos Líderes Geográficos internamente para desempenhar um papel integrador, reunindo todos os projetos para ser mais do que a soma de suas partes. Nossas iniciativas de defesa também foram reestruturadas para focar em prioridades locais, que nossos defensores ajudarão a levar aos debates globais, pois mais uma vez acreditamos que as lutas por direitos, igualdade e justiça começam a nível local e com movimentos que tentam se engajar com o poder.
Além do nosso trabalho nas nossas novas metas com prazo determinado, a Open Society também concederá subsídios plurianuais a uma rede diversificada e interseccional de organizações que são catalisadoras de mudanças transformadoras. Organizações do mundo todo serão consideradas para esse tipo de apoio, pois buscamos equilibrar nossas ambições globais com percepções locais, garantindo que elas se fundamentem e fortaleçam mutuamente enquanto trabalhamos para ajudar a trazer novas vozes aos corredores do poder.
Com nossa transformação, continuamos comprometidos como sempre com o conhecimento local e com a presença global, enquanto nosso novo modelo otimiza recursos e nos centraliza no impacto que buscamos alcançar. Também estamos profundamente gratos por todo o apoio que recebemos dos nossos parceiros e aliados que compartilharam suas percepções e sua sabedoria conosco ao longo deste processo.
A disposição de repensar nossas formas de trabalhar e adotar novas abordagens garante que estaremos em melhor posição para enfrentar um mundo dinâmico e incerto, cujos desafios emergentes ainda não estão completamente claros, mas onde o apoio àqueles que lutam por valores de uma sociedade aberta continua sendo essencial, como sempre foi.

Pedro Abramovay é Vice-Presidente de Programas da Open Society Foundations.